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BORDER COLLIE |
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POR QUE
ESTA RAÇA DE PASTOREIO TORNOU-SE IMBATÍVEL NO AGILITY
E OUTROS ESPORTES?
Por Alexandre Zilken de Figueiredo |
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MATÉRIA
PUBLICADA EM 08/08/2005 |
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Embora desenvolvida
com um só objetivo, o pastoreio com rebanhos, a raça Border Collie
se revelou competitiva em inúmeras outras atividades, sendo que eu
algumas é insuperável. Por que? O que faz dela uma raça cada vez
mais admirada e criada? Como pode um cão de trabalho superar em
atividades esportivas raças desenvolvidas especificamente para
esportes? Porque a seleção para o pastoreio acabou por capacitá-la
como uma raça de alta performance esportiva? |
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Como e onde surgiu essa raça extraordinária? |
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Muitas vezes se lê ou se escuta que a raça
Border Collie tem 150, 200, 300 anos de seleção. A origem dessas
informações e os motivos que levam a estas conclusões são sempre omitidos
ou obscuros. Será possível que há 200 anos, em um determinado dia, um
homem inglês, morador na fronteira com a escócia, decidiu fazer uma raça
de cães pastores com determinadas características e começou a selecionar?
Obviamente não se deu assim.
A seleção de canídeos com aptidão para arrebanhar e trazer o rebanho para
determinado lugar existe muito antes do homem ter contato próximo com
esses animais. Possivelmente milhões de anos atrás! |
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O Início da Seleção |
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A seleção natural se encarregou durante
muitos milhares de anos de preservar e reproduzir os genes para essas
atividades em populações de lobos, raposas, coiotes, chacais, etc...
Quando os homens se associam a esses animais, no início da domesticação,
essas características já existiam e talvez por elas o homem viu vantagem
em ter canídeos para ajudá-lo em suas caçadas. |
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Note-se, nestas fotos, a
incrível semelhança entre as atitudes dos lobos caçando e
dos Borders Collies trabalhando. (fotos de lobos -
Monty Sloan) |
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Desde então há uma seleção artificial
empírica buscando preservar os cães mais amigáveis, menos agressivos, mais
colaboradores, mais treináveis, mais inteligentes, etc. sabe-se que todos
os animais de fazenda foram domesticados muito antes dos tempos
históricos.
É incompleta a evidência sobre a época e o modo de domesticação,
constituindo em coisas tais como ossos e ferramentas encontrados
enterrados nos monturos à volta dos antigos acampamentos e cavernas,
desenhos e entalhes nas paredes de cavernas, ou ornamentos. Mas essas
evidências não deixam dúvida que o homem já tinha domesticado o cão no
período paleolítico.Sabe-se, por exemplo, que os aborígines paleolíticos
que foram para a Austrália levaram consigo o cão.
Mas se os registros arqueológicos mostram os restos de cães domésticos com
idade aproximada de 14.000 anos, análises genéticas que consideram a
divergência do DNA mitocondrial entre cães, lobos, coiotes e outros
canídeos, sugerem que a domesticação do cão tenha ocorrido, no mínimo,
100.000 anos atrás. |
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O Border Collie ainda
carrega traços físicos e comportamentais de seus antepassados lobos. |
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Arrebanhador de Animais de
Caça:
A Primeira “Profissão” do Cão Pré-Histórico |
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O período paleolítico foi assinalado pelo
uso de instrumentos de pedra e osso, os quais aumentaram vagarosamente em
complexidade e utilidade. O uso do fogo foi apreendido pelo menos no tempo
do Homem de Neanderthal. Não se praticava agricultura nem havia animais
domésticos exceto talvez o cão. A cultura paleolítica na Europa ascendeu
vagarosamente até a neolítica, cerca de 25.000 anos passados.
No período neolítico, onde o homem polia pedras e construía cabanas, quase
todas as raças modernas já estavam domesticadas. E muito provavelmente os
cães já ajudavam a cuidar de rebanhos. É óbvio que os cães agressivos, que
dispersavam rebanhos ou não obedeciam a seu dono eram eliminados. Já
havia, possivelmente, iniciado a seleção do cão pastor que veio resultar
no Border Collie, assim como em quase todas as outras raças de cães.
Interessante notar que as raças de cães pastores modernas têm hoje quase a
mesma função para o homem que tinham os primeiros canídeos domesticados,
ou seja, juntar (não dispersar) rebanhos e conduzi-los a um local onde
podiam ser abatidos ou aprisionados. |
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Algumas espécies de lobos caçam deste modo.
Lobos de hierarquia inferior arrebanham lotes de herbívoros e os conduzem
a um ponto onde o lobo alfa, descansado, está a espera para abater uma
presa que servira de alimento a toda a matilha. O homem faz hoje o papel
desse lobo alfa, para quem o Border Collie, como seus ancestrais, conduz
instintivamente o rebanho. |
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Lobos caçando em
cooperação tentando cercar e dominar a presa. |
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Não
é
por
acaso
que
o
grupo
de
cães
pastores
mantém,
além
das
características
comportamentais,
muito
da
aparência
física
dos
seus
antepassados
lobos. |
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A Criação da Raça |
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Ilustração do século XVIII. Frio,
montanhas íngremes, pedras, ovelhas ariscas...
O ambiente de trabalho de um Border Collie. |
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Não se pode, no entanto, negar que, em um
determinado momento histórico um grupo de cães, com características
valorizadas e comuns entre si ao mesmo que distintas, em algum grau, de
outros grupos, recebeu uma denominação e desde então teve sobre si uma
atenção especial e uma seleção direcionada para preservar e aperfeiçoar
essas características que os distinguiam. Foi o momento surgimento da
raça, mas não o início de sua seleção. Pois se não houvesse seleção desde
o início da existência dos canídeos, seja natural ou artificial, não se
chegaria nunca a esse grupo de cães.
Indiscutível é que o Border Collie como hoje conhecemos é originário da
região fronteiriça entre a Escócia e a Inglaterra. Mas a raça é muito mais
antiga, com referências literárias e pictóricas que datam de, pelo menos,
1570.
Muitos crêem que o nome "collie" possa deriva de uma palavra gaélica que
significava útil. Outros autores afirmam que "collie" vem da palavra "colley",
uma raça de ovelhas. Outra pista é a existência da palavra "coolie" em
inglês, que quer dizer trabalhador. Qualquer que seja a hipótese
verdadeira, o certo é que há muito "Collie" designava o cão preto (como
eram quase todos) e útil que servia aos pastores daquela região. |
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Foto tirada na Escócia
em 1851. A raça ainda não existia oficialmente,
mas nota-se que o apreço pelo Border já era grande. |
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Primeiras Provas de
Pastoreio |
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Durante séculos, esses cães pastores
trabalharam com seus donos cuidando de rebanhos sob chuva, neve e
mormaços, em terras íngremes e pedregosas, sem nenhum reconhecimento fora
o de seus próprios donos. Foi em Bala, no País de Gales, a 9 de Outubro de
1873, o início dos primeiros concursos de pastoreio, quando se mostrou
esta raça aos olhos do público. O encantamento foi inevitável e a
popularidade da raça como ferramenta de trabalho foi aumentando
rapidamente, acompanhando o desenvolvimento da indústria da lã.
À medida que o numero de criadores de ovinos aumentava, assim como
aumentavam os rebanhos, tornou-se impossível aos pecuaristas cuidarem dos
seus rebanhos sem ajuda. Por volta de 1800, os Border Collies tinham-se
tornado um ajudante invariavelmente presente nas fazendas inglesas. |
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Prova de cães
de pastoreio no início do Século XX. Domínio e atenção total do
cão sobre o rebanho sem deixar de ser obediente ao dono. |
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O Batismo Oficial |
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Em Julho de 1906, alguns pastores que se
preocupavam com a preservação da raça fundaram a Internacional Sheep Dog
Society (ISDS) por encontrarem-se insatisfeitos com o Kennel Club. O
descontentamento vinha do fato desta entidade se preocupar mais com o
aspecto exterior dos cães do que com as sua funcionalidade. A ISDS é hoje
responsável pelo Stud Book que registra os cães de trabalho e que organiza
as provas de pastoreio (sheepdog trails).
Em 1918, James Reid, secretário da ISDS, acrescentou pela primeira vez a
palavra "Border" a raça que então era conhecida apenas como "collie",
fixando assim o nome Border Collie, "collie da fronteira". |
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Como deve ser o Bom Border
Collie de Trabalho? |
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Mas que características eram as selecionadas
pelos pastores ingleses que criavam e dependiam do Border Collie? Quais
cães eram apreciados e reproduzidos?
Primeiro era fundamental que o cão tivesse o instinto arrebanhar os
animais sem nunca dispersá-los ou afugentá-los, e trazê-los ao seu dono.
Depois era preciso que o cão fosse capaz, física e mentalmente, de fazer
isto de modo eficiente e seguro. Para tal exigia-se um cão calmo e
equilibrado, mas que tivesse resistência, velocidade e agilidade superior
às das ovelhas. |
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Na foto à
esquerda vemos o cão da raça Border Collie,“Capitão”, calmo, mas atento,
conduzindo ovelhas sem lhes causar estresse desnecessário.Na foto à
direita vemos o mesmo cão Border “Capitão”agindo com velocidade e explosão
para impedir a fuga de um boi 20 vezes mais pesado que ele. |
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Resistência e Obstinação |
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Sobretudo na Grã-Bretanha, berço da maioria
das raças bovinas e ovinas, ter um cão pastor eficiente era questão de
sobrevivência. Isto se explica pelo fato daqueles fazendeiros viveram
pastoreando em zonas montanhosas, totalmente abertas e íngremes, que
tornava o trabalho a cavalo impossível e a movimentação a pé inútil para o
controle dos animais. Perder parte do rebanho significava a perda de
importante suprimento de carne e lã e a ameaça de fome e frio àquelas
famílias. Esses cães quase sempre trabalhavam em condições severas e
desgastantes. Dominar por muitas horas seguidas, rebanhos ariscos, velozes
e rebeldes, em montanhas íngremes, com pedras ásperas, frio intenso,
chuva... Muitas vezes sem ver o dono nem receber deste qualquer
orientação, exigia uma obstinação e uma tenacidade incomuns. Foi
justamente a partir dessa necessidade fundamental que o pastor daquela
região e acabou por criar o Border Collie, reconhecido como o melhor cão
pastor do mundo |
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Ilustração do
século XVIII. Sem ajuda de cães treinados e eficientes seria impossível
ao homem ter criado ovinos na região montanhosa da Escócia. |
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Capacidade de Aprender |
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Além disso, precisava, o cão, ser
inteligente o suficiente para perceber a intenção de fuga ou ataque de
cada animal para se antecipar ou bloquear com eficiência as atitudes
indesejáveis e que viessem a por o trabalho ou a integridade do cão em
risco. |
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À esq. Um Border Collie “estudando” o rebanho. Assim ele
aprende como deve agir para conseguir realizar seu trabalho com
eficiência. Somente cães extremamente inteligentes são capazes disso.À
dir. um campeão de Agility “estudando” a pista. Em alta velocidade e
sempre com atenção simultânea ao dono e ao próximo obstáculo. |
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Essa percepção, essa capacidade de entender
os animais que ele precisa dominar e conduzir, não é totalmente inata,
pois há grandes variações de comportamento entre animais de raças
distintas, também entre rebanhos diferentes de uma mesma raça e entre
indivíduos de um mesmo rebanho. A todos precisava saber se impor
igualmente e sem violência. Logo era fundamental que o bom cão de
pastoreio aprendesse dia-a-dia com seu trabalho e descobrisse com sua
concentração e inteligência próprias como é o comportamento dos animais e
quais sinais específicos eles emitem antes de agirem de uma determinada
maneira.
O cão precisava compreender o rebanho e responder rapidamente aos sinais
de modo a impedir fugas ou rebeldias indesejáveis. Além disso, ele precisa
ser totalmente subordinado ao seu dono de modo que trabalhe obstinadamente
para ele sem questioná-lo. |
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O bom Border Collie deve entender o rebanho e responder
dosando calma e agressividade conforme a necessidade.
Isso o faz o melhor cão de pastoreio do mundo. |
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Muitas Características em
um só Cão |
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Velocidade, obstinação, tenacidade,
resistência, respostas rápidas, empenho, entusiasmo, entrega total ao
trabalho, autonomia e autoridade perante o ambiente e outros animais,
cooperação com o companheiro de tabrablho, subordinação incondicional ao
líder (homem) e, acima de tudo, uma inteligência extraordinária que
surpreende até os treinadores mais experientes.
Essas características, que estão presentes, mais do que em qualquer outra
raça, no bom Border Collie de trabalho, são as que o capacitam para que
obtenha os melhores desempenhos também em algumas outras atividades que
exigem esses traços presentes em alto grau. Agility, Freesbe, Flyball,
etc...São esportes que tem se beneficiado com esse cão extraordinário. |
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Flyball, Frisbee e Agility: Três
esportes onde a raça Border Collie é imbatível. |
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Há Um Único Border Collie:
O Border Collie de Pastoreio |
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O que se lamenta é ter que escutar que a
raça Border Collie, resultado de milhares de anos de seleção, já possui
linhagens de trabalho e linhagens de esporte. Mas será que quem fala isso
sabe sequer o que é uma linhagem?
Formar uma linhagem não é simplesmente acasalar dois cães que fazem uma
atividade específica com alguma eficiência. Acreditar nisso é um erro
técnico e lógico. Linhagem é um termo científico que exige muito
conhecimento técnico para ser usado com propriedade e correção. No Brasil,
por exemplo, não há nenhuma linhagem de Border Collie, seja de trabalho,
seja de esporte ou lazer. Não se conhece, também, no mundo todo, nenhuma
linhagem de Border Collie reconhecida e consagrada. O que se escuta é
muita afirmação sem base técnica e descompromissada. |
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Inteligência, aplicação, precisão,
subordinação, cooperação: Atitudes admiráveis que fazem do Border Collie
uma inestimável máquina de trabalho para os pecuaristas do mundo todo. |
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O que não se pode perder de vista é que o
Border Collie é fundamentalmente um cão de pastoreio. E foi essa atividade
que o moldou, que o selecionou. E que ainda está a selecionar cada vez
mais. Foi a seleção para pastoreio que fez possível surgir os campeões de
agility, por exemplo! E vai continuar a ser. Não há melhor laboratório
para essa seleção desta raça que o trabalho com rebanhos nos campos. E
serão dos cães de trabalho com rebanhos que, sem sombra de dúvida,
continuarão a sair por muito tempo ainda os melhores animais tanto para
trabalho como para o esporte e o lazer. |
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Para
obter mais informações sobre a raça "Border Collie" visite o site: |
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www.caniltorena.com |
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*Alexandre Zilken de Figueiredo, proprietário do
Canil Torena, é pecuarista no Rio Grande do Sul, onde cria, treina e
trabalha com Border Collies em rebanhos de bovinos e ovinos. |
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É integrante da diretoria da Associação Gaúcha de Criadores de
Border Collie, membro da Comissão Técnica de Provas de Pastoreio e
juiz de provas de pastoreio. |
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ALEXANDRE ZILKEN DE FIGUEIREDO
Canil Torena
-
Venda de Filhotes e Cães Treinados
São Lourenço do Sul - RS / Brasil
-
Tel:
(51) 3224-0961 / 9282-4963
Site:
www.caniltorena.com - E-mail:
azfigueiredo@terra.com.br |
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